Wednesday, October 22, 2008

BABY

Eu sempre quis
que cantassem essa musica
pra mim,
sempre quis
cantar essa musica pra alguem,
porque certas musicas sao,
assim,
relacionais,
sabe como 'e?
tem que ter alguem numa ponta
aqui
e alguem numa ponta
la
pra fazer sent
ido, pra gente
se emocionar
muito
e entender
"ah, entao era isso",
embora a gente ja tenha entendido
antes, a gente entende as coisas,
a gente ja sabe de tudo antes
da gente sentir tudo
,
mas de repente,
quando eu to aqui
e tem um monte de gente ai
nessa outra ponta,
a margarina,
o sorvete,
tudo
vira outra
coisa.

Sunday, October 19, 2008

Clark He, o poeta chines




Why bad drawings look better than reality

Desde quinta-feira passada que estou pra escrever esse post. Ja sentei umas tres vezes na frente do computador, mas tudo parecia mais urgente e eu nao me achava articulado o bastante pra escrever como queria. Outro dia eu comprei uma abobrinha que ficou escondida na geladeira e umas semanas depois tivemos que joga-la fora. Minha memoria tambem funciona assim, e tem um prazo de validade ainda mais perverso. Se uma ideia fica esperando em alguma prateleira do meu cerebro, logo logo ja nao me basta mais. Vai deteriorando e ja nao da mais pra usar nem em blog nem em coisa nenhuma.

O que aconteceu foi que quinta-feira passada tinha que entregar 4 trabalhos pra aula de desenho, e, claro, passei a noite de quarta acordado trabalhando. "uma planta", "coisas de cozinha", "o lugar onde estudo" e "uma pilha de correspondencias".


A maioria dos alunos estrangeiros vive no Village & a maioria dos alunos estrangeiros sao chineses. Os chineses que nao conseguem apartamento no Village, vao morar a algumas quadras daqui, num conjunto habitacional. Os chineses que moram no conjunto, estao sempre nos apartamentos do Village, cozinhando, jogando videogames ou estudando. Eles estao semepre juntos. Chega a ser bonito de ver.

Quarta a noite, eu num quarto desenhando ja automaticamente, o Tales no outro montando power points, bate na minha porta esse menino de oculos, entra e diz:
_hóa-wah-riú, com um sorriso infantil e a espectativa de uma vida inteira. Eu tinha muita coisa pra fazer mas fiquei conversando com ele, sem tirar os olhos do papel. Tinha colocado a tv com o dvdzinho emprestado no meu quarto pra ficar escutando musica e diminuir meu sofrimento. O quarto estava todo azul por causa da tv, e o menino ficou em pe de braços cruzados, parado por muito tempo em silencio me assistindo desenhar. Os Chineses aqui todos fazem engenharia. Morrem de rir quando falo que tenho trabalho pra fazer me referindo a 4 desenhos de "uma planta", "coisas de cozinha", "o lugar onde estudo" e "uma pilha de correspondencias". O menino me falou que nao estava acostumado a dormir longas horas. Eles ficam no Village depois da aula e acabam dormindo em algum sofa, no chao do quarto de algum amigo, ou simplesmente nao dormem nada. A qualquer hora que eu sair do meu apartamento, vao haver chineses diante de laptops e livros empilhados, apoiando a testa sobre exercicios de matematica, nas mesinhas das areas de convivencia.
_ O que 'e que voces fazem para entretenimento? - o menino ficou me perguntando, mas nenhuma resposta o satisfazia. O que ele queria mesmo saber era como eu conseguia viver com aquele tedio horrivel, a solidao, aquela morte longa, dormente, preguicosa que ele sentia todo dia sem saber porque. Ele ja nao conseguia mais dormir. E eu nao tinha essas respostas, nao.
Ele tinha um jeito tao desconcertante de ser perfeitamente claro e objetivo pra falar do tedio que eu ria, sem graca, e tentava falar pra ele ficar ali que eu ia tirar uma foto dele.

Depois ele inclinou a cabeca sobre meu caderno e disse com toda honestidade:
_ Por que esses seus desenhos feios sao tao mais bonitos que a realidade? Por que voce nao desenha direito? - Era uma pergunta honesta, verdadeira. Eles nao estava querendo dizer nada alem disso. Ele me disse que na China os atistas desenham com pinceis grossos linhas simples e que ele sempre achou isso muito feio. Mas que de repente, ali na luz azul do meu quarto, ele nao queria mais ver desenhos bonitos. Ele gostava dos desenhos feios da China, dos meus desenhos feios.

Acho que esse foi o maior elogio que ja recebi. Nao sei se ele acha a vida ainda pior que meus desenhos ou se ele concluiu que quando a gente olha pruma coisa ela ja nao 'e mais do mundo e passa a ser nossa, pra botar no papel do jeito que der gosto de ver.

Dei uma risada boa. Pedi pra ele escrever no meu caderno a frase em chines. Ele ficou sem entender nada e escreveu algo que se traduz por "blur is a kind of beauty" (a disformidade 'e uma especie de beleza). Depois assinou embaixo: "Clark He"

Eu disse "sabia que voce 'e um poeta?" e ele riu. Eu nem sei o nome dele de verdade e isso faz dele algo como o meu desenho. Alguma coisa menos que a realidade mas mais interessante que ela, talvez.

Friday, October 10, 2008

ctrl+C ctrl+V







"e-mail rapido e explicativo:

Fim de semana passado fui convidado pra ir a Grand Park, cidade natal da Heather, querida amiga que fiz aqui. Fomos so eu e o Kurt, outro bom amigo. 'E uma cidade minuscula, no meio do milharal. O pai dela coleciona e reforma carros antigos como esporte, e deu esse da foto pra ela. Ou seja, a menina tem 18 anos e ja tem dois carros na garagem. Ia acontecer uma parada comemorativa de outubro, tipo um october fest, com muita cerveja e eu finalmente ia poder encher a cara como no Brasil. Ela sabia que eu tinha que tirar fotos pra escola, e realmente foi uma boa oportunidade. A parada em si foi horrivel: um carro de bombeiros barlhento, e meia duzia de carrocas com um povo fantasiado de Elvis dando tchauzinho. Pulamos na cama elastica, jogamos jogos idiotas e assamos marshmallow na fogueira. Fiquei decepcionado com os marshmallows, nao 'e tom bom como na TV. Fizemos pizza na coisa mais futurista e engracada que ja vi: um ferro de passar roupa suspenso sobre uma bandeija giratoria que assa a pizza no meio da mesa e todo mundo fica olhando maravilhado. Eu passei o frio mas desgracado da minha vida, com os dedos paralizados e dormentes, e depois todo mundo dormiu apertado em sacos de dormir no chao do quarto da amiga da Heather.

E eu nao fiquei bebado, porque eles bebem cerveja na latinha em temperatura ambiente.

Um beijo,

Joao"
LEGENDA:
1- por do sol entre as ruas da cidade;
2- casa enfeitada para um casamento;
3- a Heather e o Kurt andando no meio da noite;
4- o carro da Heather;
5- a casa da Heather do lado do milharal, visto de dentro do caro;
6- eu e a mae da Heather just chillin' (literalmente, no frio do cao!)

Monday, October 6, 2008

para casa



Transformar qualquer umas dessas imagens em uma capa de livro interessante, atraves da aplicacao de tipografia. O resultado deve ser surpriendente e original e eu tenho liberdade pra criar nome do livro e do autor.

UUUUAhahahahaha! *risada malefica

um breve post sobre a cegueira

Fui ver Blindness hoje, nos cinemas. Esse post 'e pra registrar minhas impressoes fresquinhas e pra contar do motim que o filme causou. Foi um desconforto geral, com direito a intervalos de silencio extendidos, tons de voz alterados, acusacoes nacionalistas generalisadas e argumentos daqueles que vc desqualifica o adversario e tira o corpo fora encerrando a conversa, sabe?

Fomos ao cinema, um cineplex daqueles em que a pipoca chega a ser laranja de tanto incremento, bem tipo beaga-xopim. A plateia tinha menos de dez pessoas: uma mae com filhos e tal e nos, os brasileiros, acompanhados da dupla dinamica Genevieve e David. Bem no meio do filme, na hora em que o bicho pega pra valer, a familia abandonou a sessao falando palavroes. Logo depois o David, indignado. A insatisfacao era clara.

Mas antes disso, bem antes, antes mesmo de apagarem as luzes, eu ja estava noutro lugar. E 'e importante explicar esse lugar. 'E pra onde a gente vai quando sabe que vai gostar do que vem pela frente, onde a gente desliga o burburinho ao redor, os olhos parecem entrar numa rotina de ajustes se preparando pra devorar as imagens, a mente se desliga. Entramos num estado de pura absorcao. Nos primeiros minutos de filme eu ja sabia que aquela experiencia ia mudar minha vida um pouquinho - meus pelos todos arrepiados, um extase por estar ali, por querer muito que o filme fosse bom, por sentir saudades, por orgulho.

Eu adorei o filme. Adorei. Fiquei completamente emocionado, chorando, nervoso, embriagado com o filme. Me deu muita vontade de conversar com as pessoas que leram o livro pra saber o que elas acharam. Estou completamente impactado. Uma das cenas finais nao sai da minha cabeca: quando a juliane moore serve cafe pro japa, pro final do filme. (calma! nao to arruinando o final pra ninguem!) As imagens sao todas muito poeticas e 'e como se estivessemos vendo uma exposicao de arte em movimento. Tive essa impressao: que estava vendo arte fluir pela tela e se derramar sobre mim.
To tentando muito fazer um comentario interessante aqui, mas o meu nivel de deslumbramento me atrapalha a desenvolver qualquer reflexao valiosa de se publicar na internet. Ainda bem que se publica qualquer coisa na internet, hoje em dia. Quero ler os comentarios e criticas de quem viu o filme ai no Brasil. Ao vivo meus elogios devem ser mais fluentes e bem articulados. As imagens sao tao fantasticas!

Mas o que aconteceu 'e que os americanos se sentiram completamente ofendidos e irritados com o filme. Da pra entender o quao degradante o filme pode ser, mas eles vieram com um papo de "ofensivo contra as mulheres" que eu nao tava entendedo bem. O fato 'e que eles nao conseguem ver filme de adulto. Eles ficaram tao chocados que tentaram esconder os pudores e o mal gosto em geral debaixo de um discurso socialoide rasteiro de que "a maneira como o filme mostra a exploracao da mulher 'e ofensiva na nossa cultura." Nossa cultura MEU SACO.

Meu contra argumento 'e que o povo americano, pelo que tenho percebido por aqui, 'e completamente alienado - ta bom, nao vou usar alienado que 'e uma palavra que ja perdeu o sentido - mas 'e um povo tao dormente quando se trata de receber e interpretar qualquer tipo de conteudo; 'e um povo com um olhar superficial pras coisas porque tudo aqui 'e feito pra ser superficie e so. Sexo 'e sempre uma pornografia redundante e chata, violencia 'e um plasticismo fantastico, cheio de fogos de artificio e truques de haloween. Me pareceu tao contraditorio essas pessoas tao chocadas serem fas de Jogos Mortais, ate que percebi que nao ha problema em ver a violencia explicita de Jogos Mortais por que ali a violencia nao esta a servico de nada. A imagem nao quer dizer nada, nao faz pensar em nada. 'E a superficie e so. As abusivas cenas de sexo em qualquer filme teen que se produz e reproduz de um jeito assustador por aqui nao ofendem porque sao completamente vazias e desconexas.

No meio da conversa o David ficou tao irritado que apelou pra um discurso ainda mais furado e revelador, coitado, sobre como o filme 'e subversivo e violento contra "as grandes conquistas da nossa civilizacao", seja la o que ele quis dizer com isso. Quando as coisas nao vao bem o pessoal parece ficar bem irritado por aqui. Qualquer comportamento que ameace o fragil bem estar americano nao 'e bem vindo. Parece que as pessoas sao menos humanas. Uma coisa que chega a ser nauseante nos americanos 'e o infinito e patetico otimismo que eles tem. Aqui tudo parte de um reaciocinio curto e utilitarista de que um problema so existe no mundo porque algum americano nao foi la resolver com a chave de fenda certa. Tudo aqui tem que ter funcoes claras e objetivas, nada e visto com complexidade e significado. 'E, de fato, ultrajante ver que o buraco 'e mais embaixo.

O problema maior nem 'e eles terem odiado o filme. Eu 'e que detesto esse tipo de polarizacao de opinioes que acontece quando a gente sai da sala do cinema. Me deixa inseguro quanto aos mecanismos que eu tenho de formar minha propria opiniao. Digo, talvez eu tenha gostado tanto porque eles odiaram. Nesse caso, minha opiniao 'e qualquer coisa que esta flutuando por ai.
Mas que o filme 'e phoda, 'e.

tai o blog do filme: http://blogdeblindness.blogspot.com/

Thursday, October 2, 2008

o menino da orelha gorda


Um breve post sobre meu piercing, se 'e isso que o povao quer saber.

Teve um dia solitario aqui que eu resolvi raspar a cabeca e fazer um piercing, pra ficar parecendo hominho em vez de garoto brasileiro. Tava me dando um trabalho horroroso ter franginha, e, honestamente, essa fase em mim acabou. Agora eu estou aqui na America, entende, e a vida tem que ser outra.

Fui fazer o tal piercing num lugar muito engracado. As paredes totalmente cobertas por desenhos de mal gosto, mal executados, do tipo que so um marinheiro bebado permitiria tatuar no corpo. Na recepcao, um sujeito mal encarado interpretava o personagem rude e grosso - parte da experiencia que se espera em um studio de piercings e tatuagens. Dava pra ver que nao era uma coisa espontanea. Acho que 'e o marketing do lugar, uma tentativa de reinstaurar a subversao nas intervensoes corporais. Antes de mim haviam umas 5 meninas falando uma infinidade de palavroes divertidissimos. Me impressiona a criatividade pra usar palavroes que essa gente tem. Eles colocam palavroes entre as silabas! Poesia pura. De acordo com a fila, uma a uma ia calando a boca depois de furar a lingua, gracas a Deus.

Eu era o ultimo. Tava morrendo de medo, porque essa parte da orelha parecia doer um horror. Na verdade, nao doeu quase nada. Morder a lingua doi muito mais, ou chutar a quina da mesa, essas coisas... O problema 'e que minha orelha, pelo que parece, 'e muito gorda e eu tive que fazer dois furos! Na segunda tentativa a mulher perdeu a paciencia e enfiou o brinco de uma vez, sem usar a agulha. Otimo, que agora eu tenho uma historinha de horror pra contar pra voces!

Em breve escrevo mais sobre o dia que eu me tranquei pra fora de casa e tive que sair descalso no meio do mato pra achar a janela do Tales e pedir pra ele abrir a porta pra mim, se nao eu ia ter que pagar uma multa de 25 dolares!


As saudades estao machucando, ja. Mandem carinhos por favor!